segunda-feira, novembro 26, 2007

Primeiro Exercício Parte I

Mesmo desarrumada ela era muito bonita. Já havia atraído minha atenção ao entrar na sala, mas assim, sentada ao meu lado, sacudindo seu cabelo, jogando aquela perfumada toda nas minhas narinas, assim ficava incontrolável. Cada anel de sua cabeleira, um pequeno universo onde dríades e musas discutiam que pobre mortal iriam manipular naquela noite. A vítima sou eu. E eu já havia sido subjugado sem nenhum esforço.

Ela cruzou as pernas e senti uma lufada de ar que chegou a balançar os pelos do meu bigode. Assentei os cabelinhos com um olhar malicioso que foi prontamente ignorado por ela. Bebi o fundo quente do meu copo e pedi mais uma cerveja. A quarta. Beber sozinho tem uma característica marcante, quando acaba a garrafa já se está bêbado o suficiente para que a temperatura da cerveja não faça diferença.

Enquanto chegava minha garrafa ela acendia um cigarro. Filtro amarelo e marca vagabunda. Sou muito observador. Sou muito otimista, também, mas tenho que confessar: uma mulher como ela fumando uma marca vagabunda de filtro amarelo é sempre sinal de problema. Pelo menos para mim. A fumaça do cigarro fazia malabarismos para sair por seus lábios. Fumaça relutante, e não a culpo. Eu queria estar ali também e, conseguindo chegar, quem sairia? Eu divagava enquanto o amarelo ia se tornando cada vez mais rosado. A fumaça entrava apertada, sugada pelos lábios pintados, e saía relaxada, moldada pelas bochechas redondas.

(continua)

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