quinta-feira, novembro 24, 2005

A Cama

Deitado na cama. O sono insistindo em não vir. Controle de respiração, rotação lenta do corpo em busca do novilúnio. As idéias passam a transitar livremente, uma grande fila de Fuscas que vai descendo uma ladeira de paralelepípedos íngreme demais. Chuva. Três Ferraris disputando entre si numa grande e larga avenida que vai direto para o horizonte inalcançável. Ultrapassando as três, por fora, uma carruagem de filme de bangue-bangue. Tiros. Pneus furados.

O dia anterior se mistura ao dia seguinte. Como deveria ter lidado com aquele cara? Será que vou conseguir? Não devia nem ter tentado... Tudo é simples demais para entender, complicado o suficiente para explicar. A convergência do mês em dez minutos. Trezentos e sessenta e cinco problemas, sensações no espaço de três suspiros profundos.

É preciso dormir. Respiração e técnicas de relaxamento. Nuvens voando, rios descendo entre pedras esverdeadas, pássaros migrando para o norte. As ovelhas não têm chance contra os temíveis coiotes da imaginação. Com a carne devorada, bois de piranha dão entrevista para o Jornal Nacional. Cardumes coloridos são levados de corrente em corrente, algema em algema.

Distraído com a movimentação fica difícil perceber, até a chegada da sonora gargalhada, o homem simpático que, alisando seu bigode, circula pelo salão. É o garçom que, entre uma brincadeira e outra, atende aos pedidos dos pensamentos que passam por aquele bar. A risada não pára, lembrando os minutos que passam no grande relógio pendurado entre provolones e chifres e, também, no pequeno mostrador esverdeado da mesa de cabeceira. Como dormir com toda essa agitação?

Acordei atrasado, como sempre.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei.. foi real?

Novilúnio? Bjos!

Anônimo disse...

Cara achei teu blogger por acaso! Muito maneiro, principalmente o lá de baixo "Enquanto isso no Jardim do Éden..."
Mas ae: tu abandonou isso aqui?
Abração!