quinta-feira, março 31, 2005

Notícia do Povo (Quarta-feira, 30 de março de 2005)

Policiais da Polinter (Divisão de Capturas e Polícia Interestadual) foram recebidos com tiros pelos traficantes do Morro da Mangueira ontem, quando tentavam prender o chefe do tráfico na favela, Leandro Monteiro dos Reis, conhecido como Leandro Pitbull.

Depois de receber informação de que o traficante estaria na parte alta da favela, chamada de Buraco-Quente, cerca de 15 policiais da Polinter subiram o morro por volta das 10h com um mandado de prisão contra Leandro. Os policiais se aproximavam da casa onde o bandido estaria escondido, quando começou um intenso tiroteio. Encurralados, eles tiveram que pedir reforço para deixar o local. Agentes das delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e da 27a DP (Vicente de Carvalho) juntamente com o helicóptero Águia I, da Polícia Civil, deram apoio à operação, mas o traficante conseguiu escapar. Algumas pessoas foram presas para averiguação.

Segundo o chefe do Serviço de Investigações e Operações Policiais (SIOP) da Polinter, Fernando Rodrigues, Leandro Pitbull pertence à facção criminosa Comando Vermelho e, atualmente, é a liderança de rua no Morro da Mangueira. Ele substitui antigos líderes do tráfico na favela, como Tuchin e Polegar, que estão presos.


Enquanto isso no Jardim do Éden...

Adão estava cansado. O dia de trabalho havia sido intenso, nunca havia visto tantos animais enfileirados para que ele desse nome. Era um trabalho cansativo, estafante mentalmente. Imagine só você ter que dar nomes a mais de duzentos animais em um só dia! Sem contar a pressão, já que quando ia ao banheiro, ou tomar um cafezinho, ficavam iguanodontes e mariposas olhando para ele, aguardando sua vez de receber um nome. Às vezes ele até já sabia o nome que ia dar, mas toda aquela burocracia... A missão que o barbudo havia lhe dado era até interessante, mas alguns dias ele achava que seria melhor ficar descansando na beira de alguma praia, uma cachoeira, talvez.

E chegar em casa e encontrar com Eva. Eva era legal, não aporrinhava, não enchia o saco, não questionava. Muito melhor do que Lilith. Lilith era independente demais, não escutava o que Adão dizia, não fazia o arroz com aqueles verdinhos como Adão gostava. O barbudo fez bem em jogar Lilith naquele lugar cheio de bichos esquisitos. De repente ela poderia dar nome pra alguns deles e ver como é cansativo o trabalho que ela ridicularizava. Já Eva, ah, Eva, não. Toda essa história de sair da costela de Adão havia feito com que ela o respeitasse mais. Ela entendia melhor, por ter dependido dele para aparecer, que ele trabalhava para manter os dois vivos. Cumpria seu dever com o mundo pelos dois, e tudo o que ela deveria fazer era cozinhar para ele. Muito mais simples.

Mas Lilith era quente. Eva não é. Lilith brigava muito com ele e não tem nada melhor do que o sexo para fazer as pazes. E quanto sexo. Transavam pela manhã, transavam no horário de almoço de Adão, transavam antes de dormir, acordavam no meio da noite para transar, até! Eva está sempre com sono no final do dia, com pressa no começo do dia, ocupada no meio do dia. Sexo com ela, uma vez por semana e olhe lá.

Ah, as pressões do dia-a-dia. O barbudo deveria inventar alguma coisa para fazer com que ele esquecesse dessa vida agitada, cheia de problemas e cobranças. Ia chegar em casa e Eva estaria lá, com seu jantar pronto e seu sorriso apático. Seus verdinhos no arroz. Havia resolvido sair mais cedo do trabalho.

Pensando nisso ele se lembrou de uma conversa que havia tido durante o dia com alguns animais. Ele já vinha ouvindo há algum tempo uma expressão estranha entre os bichos, “a cobra vai fumar”. Sendo ele o inventor das palavras e dos nomes, como nunca havia falado isso? Resolveu investigar quando uma espécie nova de cobra veio procura-lo por um nome. Ela lhe deu um saquinho com um tipo de planta que ele já conhecia mas achava que era só enfeite. As folhas eram bonitas e o cheiro muito agradável. A cobra deu algumas dicas sobre o que ele deveria fazer com aquele mato que, segundo ela, era a flor seca da tal planta.

Chegou em casa e Eva estava cozinhando. Pegou um pequeno braseiro e fez como a cobra havia dito, um cone de folhas grandes para fechar o espaço entre as brasas e seu rosto. Jogou a erva no braseiro e viu quando a rica fumaça subiu. Inspirou profundamente. Repetiu diversas vezes o processo, engasgando e tossindo algumas vezes, a cobra havia dito que isso poderia acontecer. Acabou com o que ela havia lhe dado e resolveu sair para dar uma volta enquanto o jantar não ficava pronto.

As árvores... Como ele nunca tinha reparado na beleza das árvores de seu jardim? E as flores, nunca havia reparado em como eram vivas as cores que elas tinham. Azuis intensos, amarelos ofuscantes, vermelhos profundos. Ouviu um som e estremeceu. Que beleza absoluta! O que é isso que ele escutava? Olhou para o galho de uma árvore e reparou em um pássaro que ele havia nomeado havia dois ou três dias. Sem dúvida era o rouxinol que havia, todo imponente, mostrando sua cantoria. Naquele dia ele não devia estar muito inspirado, ou então Adão estava distraído demais com sua burocracia. Mas, agora, aquele canto tocava uma parte de sua alma que ele pensava nem mesmo existir.

Andando como que sobre nuvens, Adão sentiu fome. Uma fome como nunca havia sentido antes. Distraído, estava longe demais de sua casa, não tinha como saber se Eva já havia terminado o jantar ou não. Tudo bem, o que não faltavam eram árvores frutíferas em seu jardim. Esticou o braço e pegou o mais vermelho dos frutos da mais bela árvore (não julgava bem, todas as árvores pareciam ser a mais bela). Pegou e deu uma vigorosa dentada. Sentiu uma profusão de sabores, o ácido se misturando ao adocicado. O suco descia pelo seu queixo e matava sua sede e sua fome ao mesmo tempo. Comeu rapidamente e pegou outra. E mais outra. E mais outra.

Ouviu um barulho fortíssimo. Um trovão como nunca havia escutado antes. Tinha esquecido de que não podia comer daquela árvore. Justo ele que tinha uma memória tão boa. O que pode ter acontecido? Olhou para o alto e viu uma espada em chamas. Olhou para baixo, notou sua nudez e sentiu a necessidade de esconde-la. Pensou na hora: “Roupas? A Eva não vai gostar de ter mais trabalho...”.